sexta-feira, 6 de março de 2009

Mulheres negras de Jací


Mulheres negras de Jací

Passo-Fechado, mas caminho sozinho
Na estrada que saí do Quenta-sol.
Medo abobado tenho aqui,
Por causa do Curupira, Lobisomem e de sací.

Cabelo pixaim: meu avô cortou do lado.
Ninguém liga pra mim, á vezes, ando pelado.
E fico desengonçado com embornal
No umbigo atravessado.

Sou assim.
Mais que, as mulheres negras de Jací.
Sem a dor invisível; sem o cansaço do ébano;
Sem a dor da poeira que se ganha de andar no sol.

Olhos esbranquiçados, altas e sem corte.
Sem as curvas que as mulheres têm...
Sem medo de canseira e,
Sem besteira de culote.

Na dor do meio-dia sentem desprezo...
Porque o minuano não passa?
Quem sabe o Levante virá de tardezinha...
O que passa, é só carro de boi.

Peguei um que gemeu cansado.
Nem notou que eu estava na rabeira...
Vai lá para Nestlé.
Com tanto leite; o que será que vão fazer?

Vamos briosa!
Vai malhado!
Geme-geme no estradão
Acho que fiquei cansado.

Vai andando por ai afora
Acordando o pai Nau, Tia Izidora,
Mãe Joana, mãe Gilda, avó Venância
Pai Joaquim e Tia Sebastiana.


Que a lua esta azeda.
Chupou cana no canavial...
Tanto café que vejo na ESAU.
Café-bom, café-casca, café-bóia.

Gabiroba, amora e ata.
Jatobá, jabuticaba.
Araçá...
Sei de tudo que estava lá.

O dia vai acabando...
Os de Jaci estão voltando.
Feixe de lenha na cabeça.
Enxada e cara cansada.

Vão rezando, as rezas do divino,
Igual as das Congadas.
Sou menino... Como podia saber?
Rezo quando crescer.

Agora nem dá mais pra entender,
O porquê de nunca poder esquecer,
Mas pra Lavras não volto mais.
Não têm mais ouro em Minas Gerais.

Tudo se passou...
Nada esta mais lá e estou aqui.
Hoje, quando o sol fica a pino
Lembro que um dia já fui menino

Que não tenho mais medo
Daquele caminho assombrado.
Segui o caminho que tinha de seguir.
Segui as mulheres negras encantadas de Jací.

De Magela