sexta-feira, 24 de março de 2017

Devoção/Limpeza




Devoção/Limpeza
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Acordava sempre às cinco da manhã...
Não que trabalhasse longe
Sua preocupação era os muros da casa
E, logo se punha a lavá-los com a vassoura
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Água, sabão e aquela mesma ação
Nos quatros muros territoriais
Horas a finco a esfregar cimento
Pedras, paredes e os beirais
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Seu maior orgulho era poder
Dizer aos demais:
Sabe que horas acordei?!
Viu os muros? Fui eu que lavei!
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Não se importava com seus joelhos
Rotos pela artrose
Se no coração houvesse insuficiência,
Se fraco, oxigenava o pulmão
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Sempre seus assuntos eram
Os Minuciosos excessos da limpeza
A que se dedicava doentiamente
Submetendo seu corpo físico, sem tristeza
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Claro que a casa era impecável
Esse “impecável” significa
Extremamente sem sujeiras
Em eiras e beiras
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Na sala os sofás estavam cobertos com capas,
E todos eram recebidos na área de serviço
Era por lá que a família entrava
Era lá que glorificava dores e trabalho que executava
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Não havia empregada que servisse
Certa vez decidiu lavar o telhado...
Dizia isso com muita devoção,
E as filhas ameaçaram interná-la
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Não se importava mais com o marido
A única coisa que lhe importava era que
A sujeira jamais entrasse em sua casa
Resultado: Foi internada
*
De Magela e Carmem T.Elias.