quinta-feira, 12 de dezembro de 2013


A cura





A cura

Entre perdões e culpas, mistura-se tudo!
Pelo entusiasmo...
Pela adequação que temos que fazer notar
Deixando o coração cheio de esperança.

Esperança é uma menina escondida!
A cura de todos os males
Que existam no mundo
Ou na humana angústia retirada da alma

Algo fica guardado
Em eterno estado de gestação
Sem nascer ou morrer,
Sem abrir a caixa
Escondida  em cada coração


Magela e Elias




Meninos pobres da Vila Maria Alta

Vela acessa em cima da cômoda... Poderia ser  em  oração, uma benção, uma luz de respeito e fé... Mas o sentido primordial da vela era Iluminar o barraco. E nesse sentido material  de entremeio entre claridade e a escuridão, a vela era apenas vida:  era penumbra . E causava o mesmo incômodo da cama que não deixava dormir...  Meia adaptação de peças antigas e um resto de colchão que, aos poucos, também se deformavam como  cera sob  o travesseiro  para se ter o falso efeito de que  provemos de algum conforto  com coisas  que, de fato, não são.. Nem luz, nem  maciez, nem  esperança, nem sonho leve.
Deitava-me a observar o tremular das sombras que a própria chama projetava  e como se fosse  cinema, eu imaginava cenas...
Não fosse isso tudo a interferir com a noite, o barulho distante  das famílias felizes, também não me  deixaria dormir tanto quanto o ranger do estrado.
Barulho das mesas fartas - pensava. Barulho de tantas pessoas em outras casas tentando disfarçar que, na verdade, o Natal é triste.
Sabem disso aqueles que andam pela madrugada, observando o movimento das coisas... Sabem que todo ruído esconde um terror.
Se reparar bem notará que a noite é triste. Que a madrugada é triste. Que a música do Natal é triste. Apesar de a letra da música falar de boas coisas, a entonação que se dá tende ao  triste e, no seu íntimo, as pessoas são tristes.  São penumbras.
Alegrias verdadeiras somente brilham nas  crianças, quando os olhos se acendem  por  reflexo de vida ou por vidas outras criadas por elas. Crianças facilmente imaginam e  se encantam porque ainda crêem  na  “Noite Feliz”, como se a partir dela, a chama virasse de uma vela  multiplicasse em candelabros, e de um brinquedo se construísse melhores destinos.
Um carrinho feito com uma lata velha de sardinha, tampinhas de cerveja e arame... Pronto, já tenho um carro!  Uma boneca de espiga de milho, outra feita de retalhos coloridos e tendo com quem falar de amizade, carinho e companheirismo, poderia as bonecas, dormir junto no colchão de palha e travesseiro de paina. Poderia dormir abraçando a boneca, como se abraçasse a mãe.  Um cavalinho feito de madeira que o avô montou especialmente para aquele dia e galopava com meu pai por campos sem fim. “Cavalinho de pau, amigo de tantas aventuras e alegrias.” Só quando somos crianças conseguimos despertar certas magias...
Natal deve ser o nascimento de mais esperança, família junto e paz. Velas de amor acesas no coração. Mãos dadas entre irmãos, palavras brandas, uma ceia para se dizer  “ Graças! “
 Mas nem todos os barracos são assim. Enquanto sigo andando pelas ruas, vejo na penumbra que  não existem mesas postas em ofertório comum.  Ouço o som vozes em celebração de união, mas o coral de velhinhos no shopping Center ou do Metrô  não encanta mais.
As luzes coloridas de tantas as árvores a decorar as ruas da cidade não brilham mais que uma pequena vela acessa em um barraco. Mas mesmo assim é Natal. Porque  uma criança nasceu, e chorou igual a todas as outras, e quando a luz se apagou, ele brilhou mais que o sol e as estrelas, e sem penumbras,  disse nitidamente a única palavra que ainda nos  falta dizermos: Amai-vos uns aos outros.
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De Magela e Carmem Elias