segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Velha felicidade


" A felicidade é idosa...
Mas gosta de disfarçar-se para saber a índole de cada um;
Anda moribunda, faz-se de pedinte... Disfarça e bate à sua porta.
Mas só bate à sua porta uma única vez!"
Mini-conto/Velha felicidade/ Magela e Elias.
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Velha Felicidade
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Luzes e brilhos nos grandes salões. Glamour de divas e grandes damas a esvoaçar suas vestes pelas escadarias. Risos discretos ; outros exacerbados .
Dia de festa nos grandes palácios !
Viviam em uma cidade quase irreal. Prédios altos, gabarito 35 andares ou mais. Arquiteturas arrojadas ... Coisa de outras terras... Parecia até cenas de Dubai!
Nesta cidade, os prédios competem entre si, pela altura, pelas piscinas, pelos mármores e granitos, terraços metálicos , telhados dourados ... Por dentro dos vidros azuis espelhados habitam os moradores de cada condomínio .., por trás de portas maciças de 5 ou mais metros de altura.
Quase não se vê ninguém nas ruas. Passam alguns carros pretos com vidros opacos e negros ... Não se vê quem passa quase voando pelas ruas sem vida. Toda a festa é interior : dentro dos luxos dos prédios e dos supérfluos modernos .
As senhoras exibem suas roupas, sorrisos e cabelos . Os homens dedicam-se a ostentar o chaveiro dos carros, o whiskey nos copos de cristal enquanto sob as mesas esforçam-se para roçar suas pernas nas pernas de quem senta ao seu lado ... As mulheres sorriem entre si., os homens regozijam .
Nesta cidade quase irreal , comida farta e escandalosos sons a convidar para danças sem qualquer ritmo a ainda jovem moça rapidamente observa a rua através do azul vítreo das janelas.
Uma senhora aos trapos desfiados do pescoço aos pés esforça-se para atravessar a rua . Os olhos da menina moça fitam-na. A senhora sustenta-se com o apoio de uma bengala improvisada de um galho de árvore . Lentamente bate de porta em porta ... Sem que qualquer morador ouça o toque, a campainha , a batida fraca na grade .
A menina segue a andança da senhora . Um calafrio lhe contorce o tronco ao olhar para a festa atrás e a velha senhora que se aproxima pela rua .
Disfarçadamente , finge correr entre os salões , trincando apertos de mãos entre os senhores e bajulações entre as senhoras . A menina jamais fora até a rua. Jamais vira um andarilho das calçadas . Jamais falara com alguém extra muros ... E em seu jeito sorrateiro aproximou-se na grande porta de modo que pudesse ouvir a senhora bater e responder pelo interfone .
"" Tenho fome" , disse a velha . Peço um pouco de suas sobras " .
De prédio em prédio só recebia o silêncio ou um " não".
Aqui nada temos , cuidou rapidamente o zelador de proclamar .
Mas a menina nada entendia . Apenas impulsionou -se pelo zelo que a senhora lhe despertara .
Correu entre os salões recolhendo bolinhos, salgadinhos, canapés, excentricidades e frutas .
Que faz? Perguntou o pai
Nada! Pegando um pouco de comida para as bonecas do meu quarto
E ninguém mais se preocupou com a jovem moça, que correu pelos fundos, através das garagens e foi encontrar a velhinha antes da travessia da próxima rua.
Senhora! Eis aqui algum alimento .
A velha pegou as pequenas guloseimas , agradeceu , provou e disse :
Seu coração é gentil e bondoso . Gostaria de conhecer meu jardim ?
Jardim ? A senhora tem um jardim ?
Sim! Feche seus olhos e você o verá.
Por alguns instantes a menina viu-se entre perfumes , cores, flores das mais lindas , correndo livre entre pássaros e borboletas .
Eu não quero voltar para dentro, disse a menina !
Deve entrar , afirmou a velhinha!
Entenda : em poucas horas a festa acabará, a comida terá sido consumida , a bebida chegará ao último gole e os seus estarão trancados sem nada saber sobre como
Viver ..,, você foi a única que me ouviu bater e me atendeu .., meu nome é felicidade . E felicidade nunca anda só . Felicidade projeta felicidade ao próximo ! Ao me atender você recebeu de mim felicidade e sua missão agora é levar a felicidade onde ela for necessária . Volte . Quando a festa acabar, distribua felicidade a quem te ouvir .
A velhinha desapareceu antes da esquina seguinte . A jovem menina retornou para dentro do castelo . No dia seguinte , quando todos acordaram sujos e famintos a menina fez um convite para abrirem as portas e irem ao jardim ....
Ao menos um a seguiu .
Carmem Teresa Elias e De Magela - Poesias.
(Âmago 2016)

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Te amaria de qualquer jeito



Adiantaria tantas agruras
Se não pudéssemos ao menos
Saber olhar a montanha?
Adiantaria...?!
*
Erguem-se e em encolhem-se
Quando erguem-se são irregulares
Como cada dia meu e seu
Se o amo em montanhas é porque não há vales
*
Como é tolo esse amor meu...!
Te amaria que qualquer jeito, sem pestanejar
De olhos fechados, sonhando os teus...
Em vales, montanhas; em qualquer lugar!
*
De Magela Poesias  e Carmem T. Elias.
(Direitos Autorias Reservados pela Lei 9610/98)

Beija mão



Beija-mão
*
Esvaziado de sentido...
Fui buscar espanto na curiosidade.
Moderação, ela disse.
Deve-se seguir o cerimonial da verdade.
*
Dos olhos dela, a fina flor exaltava...
Poesia leve e sincopada.
Beleza, capricho da palavra!
Lisura e emoção suavizada...
*
Curvo-me à distinção que o amor faz de mim,
Quando harmoniza em gestos o sentido que havia colocado meu olhar no chão...
Da vida, nessa sensação aflita: beija-mão...
E, reinante, mantém minha devoção assim.
*
Montanhas ergueram-se nos mares quando a terra ainda era só uma ilusão.
Buscando teu amor, esvaziado de sentido, mesuro a intenção da investida... 
Verifico que a saudade, de nós é a que mais fala,
Em sua dissimulação, arranca do peito o meu coração!
*
De Magela e Carmem Teresa Elias
( Direitos Autorais Reservados pela Lei 9610/98).

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Sangro com a pele ressecada de civilização
Forrada no avesso de quando o amor aumenta
Pela carne sem pecado e salvação
Pela saudade imensa de jornais e cola branca
*
Sangro por pés e por mãos
Na pedra lisa da vida escorrida
Do trabalho, do descanso tortuoso,
Da barbárie que não me deixa amar
*
Sangro de esquecimento
De traição! De desgosto...
Sangro a vida nesses destroços
Em que o sonho existe sem imagem e carne
*
Sangro pelo ventre que nasce
Pelo coração que morre
Pelo amor quando socorre
Pela alegria; couro tratado e longe da dor
*
Sangro por sentimentos famintos
Guardados e enclausurado feito pergaminhos
Contidos na escuridão que habita o corpo
Em conflitos intermináveis
*
Sangro para o coração saber
Que é permitido viver, ouvir e saber
Sangro a mata, sangro o bem e o mal
Sangro escrita e civilização, despedida e sal
*
De Magela e Elias/Sangro.
(Direitos Autorais Reservados pela Lei 9610/98)
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